BARAFONDA

BAIRRO DA BARRA FUNDA É TEMA DO ESPETÁCULO DA CIA. SÃO JORGE DE VARIEDADES Com 25 atores e quatro músicos em cena, BARAFONDA é um espetáculo itinerante que percorre as ruas da Barra Funda. Montagem, que começa na Praça Marechal Deodoro e termina na Rua Luigi Greco, em um percurso […]

BARAFONDA

BAIRRO DA BARRA FUNDA É TEMA DO ESPETÁCULO DA CIA. SÃO JORGE DE VARIEDADES

Com 25 atores e quatro músicos em cena, BARAFONDA é um espetáculo itinerante que percorre as ruas da Barra Funda. Montagem, que começa na Praça Marechal Deodoro e termina na Rua Luigi Greco, em um percurso de quase dois quilômetros, tem mais de 150 figurinos e dois pequenos carros alegóricos

A história do bairro da Barra Funda mesclada com as tragédias gregas Prometeu Acorrentado e As Bacantes é o tema do novo espetáculo da Cia. São Jorge de Variedades. Com dramaturgia e direção da própria Cia. e coordenação geral da atriz Patrícia Gifford, BARAFONDA estreia dia 4 de maio, sexta-feira, às 15 horas, na Praça Marechal Deodoro e segue em um percurso de mil e setecentos metros até chegar à Rua Cruzeiro, onde uma grande festa é realizada. O espetáculo, patrocinado pela Petrobras através do Petrobras Cultural é gratuito e indicado para todas as idades.

BARAFONDA faz parte de um projeto iniciado em 2010 pela Cia. São Jorge de Variedades. Debruçados em estudos práticos e teóricos sobre a história do bairro da Barra Funda e sobre a noção de coro no teatro grego, os integrantes da Cia. optaram por uma dramaturgia coletiva e, assim, contemplar várias reflexões sobre o bairro. Segundo a atriz Patrícia Gifford, coordenadora do projeto, o interesse da Cia. era resgatar a história do local onde estão sediados desde 2007, por ser a única maneira de entenderem o presente como fruto de acontecimentos passados e, portanto, o futuro como resultado de ações transformadoras no presente.

“Seduzidos pela possibilidade de dialogar cada vez mais diretamente com o lugar que habitamos e convencidos da relevância de se realizar um teatro que faça cada vez mais parte da vida, sem mediações e convenções controladoras, resolvemos voltar o olhar para nossa própria “aldeia”: a Barra Funda e sua rica história, que se apresenta como metáfora da cidade e da civilização. O espetáculo é um passeio pelo bairro e pretende juntar nosso elenco com o público e formar um grande coro.” explica ela.

Passado, presente e futuro da Barra Funda serão mostrados durante a apresentação de BARAFONDA. Bairro residencial e pacato há 20 anos, a Barra Funda é hoje alvo da verticalização e especulação imobiliária, por isso a Cia. São Jorge de Variedades decidiu apresentar o espetáculo durante o dia para que o mesmo pudesse dialogar com as pessoas, o trânsito e o comércio do bairro.

O berço do samba paulista
Prometeu Acorrentado e As Bacantes são as duas tragédias gregas que estão mescladas com a história da Barra Funda na montagem de BARAFONDA. Para Patrícia Gifford, a tragédia de Prometeu remete à condição do progresso, história e morte e As Bacantes por sintetizar a festa. “O espetáculo busca o lugar idílico de convívio público da arte e da possibilidade dos artistas existirem e coexistirem com a cidade”, comenta a atriz.

O bairro da Barra Funda foi palco do 1º Cordão Carnavalesco Paulista, o Grupo Carnavalesco Barra Funda, que mais tarde viraria a Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Formado por negros, que se sentiam excluídos das comemorações de Carnaval, o cordão foi fundado por Dionísio Barbosa no Largo da Banana (onde hoje está o Memorial da América Latina), que no início do século passado, era um local para as rodas de tiririca e de batuque trazidos pelos ex-escravos.

Dionísio Barbosa, fundador do primeiro cordão de Carnaval e o deus Dioniso, da tragédia grega As Bacantes estão presentes no espetáculo. O ator Alexandre Krug dá vida aos personagens, dividindo seu corpo em dois.

Prometeu no minhocão
BARAFONDA tem início na Praça Marechal Deodoro bem embaixo do Elevado Presidente Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão. Lá estará preso nas vigas do Elevado o personagem Prometeu, que será libertado e encontrará Dioniso. Um cortejo levará os personagens pelas ruas do bairro até a sede da Cia. São Jorge de Variedades, na Rua Lopes de Oliveira.

Na sede da Cia, o público poderá entrar e conferir mais um trecho do espetáculo. Na parede estará um mapa com o trajeto da montagem. “Nossa sede estará aberta e na linha de tempo da peça ela simboliza o momento presente, onde os artistas criam e refletem sua leitura do mundo de hoje. Camarins abertos, adereços, figurinos e contra-regragens à mostra, o público terá a oportunidade de conhecer nossa casa/teatro”, conta Patrícia.

Para amarrar todo enredo do espetáculo, o ator Flávio Porto, 75 anos, morador da Barra Funda e integrante da Companhia Paidéia de Teatro, foi convidado pela Cia. São Jorge para ser o Senhor Barafonda, uma espécie de narrador. O personagem, uma figura fantasmagórica, estará num triciclo e será o responsável por contar as histórias do bairro.

Depois da sede da Cia., a montagem segue pela Rua Lopes de Oliveira, atravessa a linha do trem por uma passarela e termina na Rua Luigi Greco. “Faremos uma festa com comes e bebes e muita música. O desejo é reunir a plateia que vem de fora com moradores do bairro”, finaliza a atriz.

Veja fotos do espetáculo

Leia matéria na Folha de São Paulo

Clipping de imprensa completo:

Vídeos de BARAFONDA:


Clipe oficial do espetáculo


Videoclipe de uma espectadora com a primeira cena do espetáculo


BARAFONDA NA TV GAZETA

Viagens e troca de experiências
Contemplado pelo Petrobras Cultural, o projeto de pesquisa e criação de BARAFONDA tem como um dos pilares a investigação das origens do teatro, dos coros gregos e a tradição de festas populares. Como parte do projeto, a Cia. São Jorge de Variedades realizou duas viagens para troca de experiências com coletivos que tem suas manifestações centradas na música e dança. “Escolhemos investigar os coros nas festas populares tradicionais, entendidas como manifestação espontânea da cultura brasileira”, explica Patrícia.
Para isso, o grupo foi a Minas Gerais observar a festa da Folia de Reis na comunidade de Justinópolis – em Ribeirão das Neves. Grande Belo Horizonte, realizada tradicionalmente pela Irmandade do Rosário. Depois foi a vez de Guaratinguetá, interior de São Paulo, onde a proposta era observar e participar da tradicional festividade do Jongo do Tamandaré, buscando trocar experiências com seus fazedores. Nas duas cidades, a Cia. apresentou dois espetáculos: QUEM NÃO SABE MAIS QUEM É, O QUE É E ONDE ESTÁ, PRECISA SE MEXER e O SANTO GUERREIRO E O HERÓI DESAJUSTADO.

Sobre o bairro Barra Funda
O crescimento e desenvolvimento de São Paulo nas últimas décadas do século XIX propiciaram a ocupação das várzeas dos rios na cidade e o surgimento de novos bairros. Chácaras foram loteadas e a construção de estações de trem trouxeram novas atividades econômicas para estas regiões. O bairro da Barra Funda é um bom exemplo deste processo. A ocupação do bairro está estreitamente ligada à construção de estradas de ferro para escoamento da produção do café na cidade. Em 1875, a estação Barra Funda da Estrada de Ferro Sorocabana foi inaugurada integrando o primeiro trecho da linha. A estação permaneceu como depósito e armazém de produtos transportados entre o porto e o interior até os anos 20 quando passou a transportar passageiros. Já a estação da São Paulo Railway inaugurada em 1892, bem próxima à estação da Sorocabana, onde hoje se encontra o viaduto Pacaembu, atendeu desde o início à crescente população do bairro atraída pela demanda de trabalho gerada nos armazéns das ferrovias e de particulares.

Os primeiros habitantes da Barra Funda, após o loteamento da chácara, foram imigrantes italianos. Além dos trabalhos relacionados à ferrovia, estabeleceram nas suas casas serrarias e oficinas mecânicas que atendiam à população abastada dos Campos Elíseos. Porém, o que mais marca sua presença na Barra Funda é a construção civil. Até hoje a maior parte das casas do bairro possuem uma arquitetura simples com algumas características em comum: construções geminadas que possuem uma entrada lateral, uma fileira de cômodos, uma cozinha, um quintal e um porão.

No início do século 20, as características do bairro começam a mudar. A população que era predominante branca passou a receber os primeiros negros, presença que se intensificou nas décadas seguintes. O sistema de transportes da região foi contemplado, em 1902, com o primeiro bonde elétrico de São Paulo que ligava a Barra Funda ao largo São Bento. O desenvolvimento atraiu alguns representantes da classe média cafeeira e industriais que nesta região passaram a residir, enquanto estabeleciam suas indústrias do outro lado do bairro, a Barra Funda de baixo. Diante da infra-estrutura que o bairro possuía e da concentração de mão-de-obra, as primeiras décadas do século XX assistiram a uma ocupação industrial impressionante. Mas o desenvolvimento econômico da região seria abalado pela crise de 29. Os casarões da antiga classe média cafeeira foram abandonados e com o tempo se transformaram em cortiços. Indústrias fecharam ou transferiram suas atividades. Ao bairro restaram as oficinas mecânicas, serrarias, marcenarias e indústrias alimentícias ou têxteis de pequeno porte.

No plano cultural, este período marcaria a história da música nacional. A região é considerada um dos berços do samba paulista. O Largo da Banana era o ponto de encontro para os sambas de rodas, rodas de tiririca e capoeira e serestas. Conhecido assim pela venda de cachos de banana, o largo é louvado em sambas conhecidos, como nas letras de Geraldo Filme. Lá que foi fundado por Dionísio Barbosa o primeiro cordão carnavalesco paulista, o Grupo Carnavalesco Barra Funda. Os anos 70 marcam a chegada dos migrantes nordestinos ao bairro. O pólo industrial ali localizado nas primeiras décadas do século sofreu um processo crescente de refluxo com o fechamento, transferência ou falências das unidades produtoras, o que propiciou uma maior ocupação residencial do bairro com a chegada dos novos habitantes. No início dos anos 80, o setor industrial se apresentava quase reduzido a zero na região. Porém, a partir de 1989 as coisas começariam a mudar. Foi inaugurado Terminal Intermodal Barra Funda que reúne todas as modalidades do transporte coletivo e no mesmo ano, no antigo Largo da Banana, foi inaugurado o Memorial da América Latina projetado por Oscar Niemeyer. Estas transformações trouxeram nova vida ao bairro. Muitas casas deram lugar a estabelecimentos comerciais, prédios de negócios se instalaram, imóveis antigos foram revitalizados.
Fonte: Banco de Dados do Jornal Folha de São Paulo.

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