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12/11/2016 às 15h56

BIEDERMANN E OS INCENDIÁRIOS

BIEDERMANN E OS INCENDIÁRIOS – 2001

 

Preparado durante um ano e meio, “Biedermann e os Incendiários” estreou em setembro de 2001 no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, no Centro de São Paulo. “Biedermann e os Incendiários”, de Max Frisch (1911-1991), autor suíço de múltiplas influências que se inscreve principalmente na corrente do teatro épico brechtiano.

 

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Foto Rafael Aidar

Insegurança na pólis: vários incêndios assustam a cidade. Um clima de pavor e desconfiança atinge a todos. Um desconhecido pede abrigo na casa de Cândido Biedermann. O pequeno-burguês cheio de culpas e movido por ‘bons sentimentos’ decide hospedá-lo. Pouco depois Biedermann descobre que o hóspede trouxe consigo mais um amigo e galões de gasolina. O Coro de Bombeiros tenta adverti-lo do perigo, mas é inútil. Mesmo diante de todas as evidências Biedermann mostra-se incapaz de agir e detona sua própria tragédia. Um “epílogo no inferno” dá conta da ausência de uma verdadeira justiça.
“Biedermann e os Incendiários” faz refletir sobre os processos de alienação que se apoderam do homem moderno. A estréia do espetáculo foi marcante: três dias antes das torres gêmeas de Nova York explodirem sob um atentado terrorista. Esta macabra sincronia dava a certeza de um olhar sintonizado com nossa época.

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Foto Rafael Aidar

Se por um lado investia-se numa interpretação mais ‘realista’, verossímil e cotidiana dos protagonistas da fábula, procurando o entendimento da psicologia de cada personagem, por outro, o Corpo de Bombeiros surgia como elemento épico. Agindo de modo coletivo e estilizado como heróis de quadrinhos ou seriados da televisão, ironizava os modelos importados de “bom, belo e justo” – fórmulas estrangeiras de virtude e ação bombardeadas pela indústria do entretenimento. Como narradores do espetáculo, sempre alertas mas incapazes de impedir a tragédia, denunciavam nossa própria incapacidade de intervenção.

A Cia. prosseguia sua pesquisa do espaço cênico, adotando o formato da semi-arena para representar e narrar a história da peça. A semi-arena tem uma característica muito forte: o espectador, embora separado pela organização espacial, está o tempo todo visível, não é ignorado pelos outros espectadores, que podem perceber suas reações. Dessa forma, ele compõe junto com a cena, cada gesto seu acaba por fazer parte da obra.

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Biedermann e os Incendiários” tinha a forma do musical: cordas e percussões diferentes, instrumentos amplificados, músicas em ritmos diversos (rock, hip-hop etc.), sincronias coreográficas. A trilha sonora original da musicista Ivini Ferraz, assim como a direção musical. A Cia. São Jorge de Variedades seguia na sua opção pela ‘execução ao vivo da música feita pelos atores’, mantendo o papel artesanal no seu teatro.

Revisitando “Biedermann e os Incendiários” em 2005/2006, a Cia. atualizou sua compreensão da fábula. O mundo presenciava acontecimentos como os incêndios na França no final de 2005, por exemplo, o que fazia perceber o espetáculo como um fórum sempre aberto voltado para o momento presente e suas mil maneiras de elaborar o medo, o individualismo, o capitalismo, a violência.

Assim como “Um Credor…”, “Biedermann” também se constituía num espaço de estudo contínuo para a Cia. Através desse espetáculo mantinha-se a pesquisa de um realismo seletivo, refinando-se não apenas as sutilezas da situação, suas oposições, suas intenções nem sempre reveladas, mas também cada ator investe na escolha de gestos que revelem outras relações, atitudes e contradições sociais, apropriando princípios épicos à linguagem realista.

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FICHA TÉCNICA:
Biedermann e os Incendiários
de Max Frisch
Tradução Alexandre Krug
Direção Georgette Fadel

Elenco
Alexandre Krug
Ana Cristina Petta
Carlota Joaquina
Luís Mármora
Mariana Senne
Patrícia Gifford
Paula Klein
Rogério Tarifa

Assistência de Direção: Marcelo Reis
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Ivini Ferraz
Luz: Miló Martins
Cenário: Júlio Dojcsar
Assistência de Cenário: Rogério Tarifa
Figurino: Claudia Schapira
Costureira: Cleuza Amaro
Assistência de Figurino: Luís Mármora
Contra-Regra: Walter Machado
Preparação Corporal: Érika Moura e Sabrina Cunha
Coreografia: Roberta Estrela D’Alva
Programação Visual: Sato

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