O tempo e o espaço. É só o que existe.
Devagar, e estamos prontos.
Nenhum horizonte à vista e o nos nossos corações uma terra segura.
Não vou falar das nossas divergências, desacordos, erros, desarmonias, porque essas coisas são o óbvio entre humanos treinados pra isso. Somos treinados desde cedo pra isso . Falo do que tem sido cada vez mais frequente entre nós e que agora ganha uma dimensão nova e emocionante . Escolho falar disso para alimentar isso. Os erros, as precipitações e nossa sagrada ingenuidade são tão arduamente discutidos e analisados que agora disso não vou falar.
Funarte, 2011. Na noite, uma longa conversa no tempo. Tempo elástico, nosso, material moldável e portanto moldável todo o resto também. Todo o resto nas nossas mãos. Essa poesia não me arrancam, 5 minutos sem ar, mas nem um segundo sem o sinônimo de existir no reino humano,. Criar e cuidar
Na tarde fria, uma longa conversa. Lutar por dois por cento ou sei lá o que com todas as forças ou não gastar mais nenhuma força a não ser no serviço doce e imenso de ancorar o afeto entre nós, sonhando com o entre todos? Reformar ou revolucionar? Reformar é sempre um horizonte à vista, e ao mesmo tempo nos nossos corações , revoluções que soam impossíveis e são inclusive ridicularizadas, mas cujo calor já aquece muitos corpos e lugares em festa e em movimento. Estamos numa encruzilhada.
No cair da luz do dia, sem pressa mas com urgência, uma constatação de alegria quase de infância Gosto tanto de estar só…mas gosto mais de estar com o “povo “ do meu grupo de teatro. E agora, gosto mais ainda de estar ao lado de COMPANHEIROS de muitos outros grupos, povos, com os quais concordo e discordo apaixonadamente, escrevendo agora, garganta apertada de pura intensidade, ao som da intensidade de risos e conversas duras lá fora . Constato: estou viva!! Benditos sons. Em silêncio, ao meu lado, outros escrevem, cada um buscando suas palavras . Juntos, buscando palavras. Carne-palavras de suspender tempo e gerar espaços. O grupo ficou maior. O prazer é imenso, a vontade que outros cheguem, concordando ou discordando, mas que fiquem pra que ouçam e possam ser ouvidos é imensa.
Na manhã, café com assembléia de erros e acertos, é esse o prato. Comamos. Juntos. Comamos a aparente burrice e lentidão de um corpo ainda em formação. Chegará logo às nossas células o alimento refinado. Temos desenvolvido proto-órgãos , órgãos digestivos, e aos poucos, a poesia, a música, a força avassaladora ganhando desenho no mundo denso e a inteligência do grupo grande começa a querer aparecer… O vislumbre dessa inteligência amadurecida é uma coisa forte e bela. Não sei se está perto, mas a sua luz já causa sombra. Teremos mãos fortes e delicadas o suficiente pra segurar a beleza?
E isso porque o tempo estava sem dono naqueles dias, naquele inverno na madrugada, nosso peito rasgado, nosso coro formado, esperando sem pressa e com toda urgência o sol nascer.
Georgette Fadel