UM CREDOR DA FAZENDA NACIONAL de Qorpo-Santo – 1999
A obra de Jozé Joaqim de Qampos Leão, o auto-intitulado Qorpo- Santo, um dos autores mais admiráveis e sui-generis da dramaturgia brasileira, foi escolhida para expressar a perplexidade diante de uma realidade brasileira absolutamente fragmentada, em que a fome convive com a alegria, a precariedade com a esperança e, sobretudo, reina a violência nas mais diversas formas. A dramaturgia de Qorpo-Santo nos oferece um retrato insólito e cruel do Brasil no século XIX. Em suas peças curtas e fragmentadas, com cenas perturbadoras e ‘ilógicas’ o autor nos mostra o homem em conflito consigo mesmo e com as contradições da sociedade em que vive. “Um Credor…”, um micro-texto de apenas sete páginas, foi o ponto de partida para revelar a contundente visão de Qorpo-Santo de uma ‘desrazão’ fundamental do mundo. Trechos das peças: “O Marido Extremoso ou O Pai Cuidadoso” e “Dous Irmãos” compõem o painel da violência sofrida pelo protagonista Credor, um homem comum perdido nos corredores da burocracia, procurando em vão entender por que não recebe o dinheiro que o Estado lhe deve.
“Um Credor da Fazenda Nacional” radicalizou a pesquisa de espaço da Companhia São Jorge de Variedades ao propor um espetáculo itinerante, em que o público se deslocava junto com os atores por todas as áreas do prédio do teatro. A sonoplastia e a música do espetáculo executadas ao vivo, de acordo com o papel central do ator definido pelo grupo e, ao mesmo tempo, davam testemunha da continuidade de uma vocação musical. A música procurando nas referências brasileiras – sobretudo sambas clássicos – um contraponto rítmico e melódico para a trajetória do Credor. Uma milonga argentina aguçava os momentos de dor e melancolia, reportando às origens sulistas do autor. Hinos em tom patriótico livremente compostos pela Cia. aludiam a imagens vividas em nossas infâncias escolares: a noção contraditória de uma ‘Pátria’ querida e ao mesmo tempo opressora e militarizada.
Na retomada de todo o repertório em 2005/2006 o grupo revisitou “Um Credor da Fazenda Nacional”, procurando reestudá-la com todo o detalhamento que nos permitiu o treinamento de Commedia dell’Arte através do projeto Boracea-Tabajara (contemplado pela lei de Fomento). O refinamento da linguagem investiu sobre um solo mais firme para o exercício do ritmo, do tempo cômico, da precisão das figuras formadas, para o treino da linguagem da máscara e suas especificidades, como a triangulação, a palavra-ação, a escuta sutil e ágil, a fisicalidade de todas as ações e reações. O trabalho sobre esta peça, estreada em 1999, testemunhou um contínuo reestudo calcado nos treinamentos da Cia.
FICHA TÉCNICA
Um Credor da Fazenda Nacional
de Qorpo-Santo
Direção: Georgette Fadel
Elenco
Alexandre Krug
Ana Cristina Petta
* Mariana Senne
Patrícia Gifford
Paula Klein
* em substituição a Cátia Pires
Assistência de Direção: Walter Machado
Luz: João Donda
Cenário: Companhia São Jorge de Variedades
Figurinos e Adereços: Marina Reis e Companhia São Jorge de Variedades
Técnico de Luz: Anderson Rodrigues
Programação Visual: Sato
