Variedades

12/11/2016 às 15h56

PEDRO O CRU

PEDRO O CRU de António Patrício – 1998 (remontagem 2006)

 

O meu reino de segredo, sem fronteiras abrange a Morte, a sua natureza de mistério… Há sete anos, há já sete anos… Desde que a minha Inês foi para lá que o nosso amor tem duas asas… Uma é a alma dela… a outra é a minha”.
António Patrício – Pedro O Cru

200_1310079701__BLOGAO__Pedro sanfona - Foto Fábio Viana
Foto Fábio Viana

“Pedro O Cru”, peça escrita no início do século XX pelo autor português António Patrício, que até então nunca havia sido encenada no Brasil, narra a tragédia medieval do rei português Pedro I e sua amante Inês de Castro: após quebrar o juramento feito a seu pai e executar os matadores de sua amada Inês, Pedro exuma seu cadáver enterrado há sete anos, coroa-a rainha e obriga o povo a um pavoroso beija-mão. O texto de António Patrício ocupa-se em enaltecer a figura de um rei tirano, transformando seus caprichos e desmedidas nas mais belas representações de amor sublime. Num duplo movimento de mergulho e crítica da obra simbolista de António Patrício, a Cia. manuseou com liberdade o texto original, ora comentando-o com ironia, ora vivenciando-o até as últimas conseqüências, de acordo com o ideal simbolista, com total identificação emotiva e ilusionismo cênico. Na busca, porém, de trazer à consciência alguns aspectos do nosso imaginário sobre o poder, o amor e a morte, a Cia. fez uso de recursos do chamado teatro épico para mostrar os diversos pontos de vista dessa história tão controversa: se por um lado o sentimentalismo exacerbado dos nossos colonizadores portugueses e seus poetas clássicos e românticos transformaram essa história mórbida e política em uma linda fábula de amor, em “Pedro O Cru”, a Companhia São Jorge reforçava tais contradições ao trabalhar no limiar entre a idealização dos poetas e a verdade crua de um cadáver esburgado.

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Foto Fábio Viana

Estreada em 1998, “Pedro O Cru” passou por uma remontagem em 2005/2006, durante a qual procurou-se aprofundar ainda mais o uso de uma linguagem próxima do Simbolismo na vivência da fábula, de modo a agudizar ainda mais a desconstrução crítica que o espetáculo opera em seguida. Nesse sentido, um foco muito grande foi dado à música – ponto central da estética simbolista – e ao seu uso de acordo com a estética do movimento, apelando diretamente aos sentidos e emoções. Novos instrumentos que começaram a ser estudados pelos integrantes entraram em cena, alguns pela primeira vez (flauta transversal, sanfonas, trompete, surdo, caixas, pandeiro e clarineta) e encontraram no espetáculo terreno fértil para começarem um diálogo entre si e com a cena.

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A remontagem de “Pedro O Cru” também possibilitou ao grupo exercitar o seu método de organização da criação. Em busca de ensaios mais prazerosos e, principalmente, que garantissem a cada artista a liberdade de experimentar sem concessões suas imagens, idéias, impulsos e intuições, estabeleceu-se como método radical (e não apenas impulso inicial) as improvisações livres, tendo apenas a fábula e suas respectivas personagens como mote, além do repertório de movimentos do Contato Improvisação. Isto permitiu que a própria equipe de direção pudesse entrar em cena – pois se trata de uma Cia. de atores – e aos poucos, em discussões coletivas, a partir do material dos improvisos registrado, levantou-se o conceito e a forma do espetáculo. Todas as funções foram resguardadas e respeitadas, mas todos criaram de acordo e sobre um material levantado e discutido à exaustão por todos.

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FICHA TÉCNICA

Pedro o Cru de António Patrício

Direção: Georgette Fadel

Elenco
Alexandre Krug
Ana Cristina Petta
Luís Mármora
Marcelo Reis
Mariana Senne
Patrícia Gifford
Rogério Tarifa
Walter Machado
Fernanda Machado

Assistência de Direção: Paula Klein
Direção Musical: Lincoln Antonio
Luz: Rogério Tarifa e Anderson Rodrigues
Cenário: Simone Ribeiro Ferreira
Figurino: Claudia Schapira
Assistência de Figurino: Luís Mármora
Costureira: Cleuza Amaro
Adereços: Walter Machado
Visagismo: Beto França
Fotografia: Fábio Vianna
Técnico de Luz: Anderson Rodrigues
Programação Visual: Sato
* Montagem original de 1998:

Direção: Georgette Fadel
Elenco: Andrea Picta, Lina Agifu, Luís Mármora, Marcelo Diaz, Maria Gomes e Patrícia Soares
Assistência de Direção: Ana Roxo e Cátia Pires
Luz: João Donda
Figurino: Luís Mármora
Cenário: Cia. São Jorge de Variedades
Preparação Corporal: Maria Gomes
Sonoplastia: Janaína de Souza
Fotografia / Vídeo: Rafael Aidar
Programação Visual: Sato

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